Escutar com Caridade é a chave para a Promoção do Pobre e a Santificação do Vicentino 5i671x

Certa vez convidei uma grande amiga da SSVP para desenvolver um tema durante um encontro de formação vicentina no Conselho Particular. A consócia falava sobre as relações dos vicentinos com as famílias assistidas pelas conferências e, a certa altura, perguntou aos participantes: “… quem aqui presente já perguntou à família assistida o que ela necessita? Qual de vocês já perguntou à família assistida, ao iniciar o processo de visitas e acompanhamento, o que ela espera desse encontro com os vicentinos?
Confesso que mesmo já tendo mais de 20 anos de caminhada vicentina
àquela época me senti impactado com a questão apresentada pela palestrante. E rapidamente busquei na memória se nas muitas visitas realizadas até então eu tinha tido o cuidado de escutar a família assistida
e direcionado o diálogo para ouvir seus anseios, sonhos e perspectivas de vida. Infelizmente não me lembrei de ter agido dessa forma até aquele momento.
Essa fato voltou à minha mente como este livro chegando às mãos dos vicentinos de todo o Brasil o livro do Ano Temático 2024, que tem como título “A promoção a pelo escutar com caridade: Assistidos e Vicentinos contam suas histórias”. Em suas 86 páginas o livro traz uma coletânea de relatos escritos por assistidos e vicentinos com testemunhos de visitas e situações marcantes nas relações entre visitantes e visitados.
A proposta de trazer à reflexão dos membros da SSVP o tema da escuta e suas consequências para a promoção das famílias assistidas e para a missão de romper o ciclo da pobreza representa muito mais que uma simples e momentânea discussão. Ela traz em seu bojo aspectos que devem ser
considerados por cada membro da SSVP e também pelos dirigentes da Sociedade que, em última instância, devem cuidar para que os nossos confrades e consócias disponham do treinamento para realizar e aprofundar essa escuta durante as visitas semanais e também de ferramentas que ajudem os nossos vicentinos na missão de promover a melhoria das condições de vida daqueles que apoiamos.
Do ponto de vista de cada confrade ou consócia, a disposição de escutar implica em aprofundar a sua dedicação à obra principal da Sociedade que é a visita aos irmãos em situação de necessidade. A escuta às necessidades dos Pobres exige doação em tempo e atenção. Também exige uma postura de humildade, porque não podemos adentrar à casa dos nossos irmãos com uma postura arrogante a determinar o que eles precisam e o que devem fazer de suas vidas. O vicentino não pode retirar do Pobre o protagonismo de sua própria vida.
irmãos em situação de necessidade. A escuta às necessidades dos Pobres exige doação em tempo e atenção. Também exige uma postura de humildade, porque não podemos adentrar à casa dos nossos irmãos com uma postura arrogante a determinar o que eles precisam e o que devem fazer de suas vidas. O vicentino não pode retirar do Pobre o protagonismo de sua própria vida.
Realizar essa escuta ativa não é uma tarefa fácil. O vicentino deve dia após dia desenvolver as habilidades necessárias para realizá-la. Essa escuta deve promover um ambiente acolhedor, onde a família assistida sinta que ali
está um amigo que deseja dividir consigo suas dores, angústias e dificuldades, apoiando-a naquilo que for possível. Respeito, empatia, solidariedade e valorização do irmão devem emergir dessa relação, concorrendo para animar a família assistida na busca da superação de suas dificuldades, despertando sonhos adormecidos e a crença de que é possível alcançar melhores condições de vida e ser mais feliz.
Os dirigentes da SSVP devem também estar atentos ao treinamento
dos nossos vicentinos, dando a eles os meios e a formação necessários para
realizar com propriedade o acolhimento dos nossos irmãos em necessidade,
promovendo o diálogo e a escuta que ajudarão na identificação das
suas dificuldades. Esse diálogo e essa escuta devem ser praticados permanentemente durante as visitas e ajudarão posteriormente no
encaminhamento das ações que ajudem a quebrar o ciclo da pobreza, dando à família condições para se manter com seus próprios recursos.
Quanto aos meios que podem ser oferecidos, além daqueles entregues pela
conferência num primeiro momento, temos as diversas linhas de financiamento através de projetos sociais que a SSVP do Brasil tem disponibilizado através do Conselho Nacional e dos Conselhos Metropolitanos. Esses projetos devem nascer justamente do processo de escuta dos assistidos e nunca através de alguma imposição por parte dos
vicentinos. Investir nas famílias assistidas, oferecendo oportunidades de trabalho e educação, é a chave para quebrar de maneira efetiva o ciclo de dependência e alcançar a tão sonhada promoção de nossos irmãos em necessidade.
Finalmente, não podemos perder de vista que a escuta atenta às necessidades
dos nossos irmãos oferece a cada vicentino a oportunidade de um encontro face a face com o Cristo que sofre na pessoa daquele que estamos visitando. Esse momento representa tudo aquilo que o membro da SSVP acredita e busca viver em sua caminhada de santificação. Escutar os Pobres com caridade e atenção é praticar aquilo que a Irmã Rosalie Rendu, Filha da
Caridade, ensinou a Frederico Ozanam e aos demais fundadores da primeira
“Conferência de Caridade”: “…durante a visita vejam Nosso Senhor nos pobres, e as marcas da coroa de espinhos de Cristo em suas testas”.
Júlio César Marques de Lima – Orientador da CCA São Cirilo Alexandrino.
Vice-Presidente para a Estrutura Internacional do CGI